Um estudo preliminar que ganhou divulgação a partir de uma parceria entre o Laboratório de Pesquisas Toxicológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Polícia Científica registrou a presença de octodrina em um grupo de dez amostras distintas de três marcas de cigarros eletrônicos A coleta das amostras ocorreu na região de Joinville, no Norte do Estado. Os dados também indicam a presença de derivados de glicerina, flavorizantes e nicotina nas amostras.
O material ganhou apresentação no Congresso Brasileiro de Toxicologia e tem a assinatura da professora do departamento de Patologia, Camila Marchioni, e dos agentes da Polícia Científica Gisele Chibinski Parabocz, Suellen Pericolo e Tiago Luis da Silva. Além disso, o estudo integra o escopo de um Protocolo de Intenções assinado em abril entre as partes. “É um primeiro indicativo do que a rede tem a capacidade de promover. Dessa forma, estas análises ocorreram na Polícia Científica e contaram com nossa expertise técnica para a elaboração dos resultados”, explica a professora.
A pesquisadora lembra que os cigarros eletrônicos podem apresentar grupos de substâncias que circulam gerando riscos à saúde pública. Desse modo, os dispositivos são amplamente comercializados, apesar de proibidos. “Por serem proibidos não há controle de qualidade. Isso faz com que possam existir mais substâncias além do que se mostra nos rótulos”, diz.
Agência Mundial Antidopping
No caso das amostras que se analisaram preliminarmente, chamou atenção a presença da octodrina pelo seu potencial de gerar quadros graves de intoxicação, dependência e abstinência. Em conclusão, suas propriedades são semelhantes às das anfetaminas, droga sintética que atua no sistema nervoso central.
A octodrina possui estrutura similar à anfetamina, e atua como estimulante do Sistema Nervoso Central que se utiliza em produtos pré-treino e ‘queimadores de gordura’. Por isso, aparece na Lista de Substâncias Proibidas da Agência Mundial Antidoping (WADA). Seus efeitos adversos ainda estão sendo estudados. No entanto, se sabe que possui potencial para efeitos cardiovasculares, e o uso crônico pode levar à tolerância, sintomas de abstinência e risco de dependência”, alerta o resumo preliminar.
Natureza viciante dos cigarros eletrônicos
Outro aspecto que a equipe que participou da análise levanta é que a composição química dos cigarros eletrônicos traz preocupações toxicológicas significativas. Isso porque o líquido e os flavorizantes, quando expostos a altas temperaturas, podem produzir substâncias nocivas. Especialmente com o uso crônico. “Além disso, a presença de substâncias não declaradas como a octodrina intensifica os danos aos usuários. O que aumenta as preocupações quanto à natureza viciante do produto. Para melhor elucidar o perfil químico dos cigarros eletrônicos, há planos de expandir a pesquisa com um número maior e variedade de amostras”, indicam os pesquisadores.
Para a perita criminal bioquímica Gisele Parabocz, uma das responsáveis pela análise, “a investigação detalhada desses produtos em Santa Catarina é essencial para entender melhor os riscos associados ao seu consumo. Além disso, também vai embasar políticas públicas de saúde mais eficazes. Por isso, enfatizo a importância da fiscalização rigorosa desses produtos irregulares”.
A professora Camila lembra que os cigarros eletrônicos estão cada vez mais populares entre jovens, o que reforça a necessidade de discussão sobre os perigos que eles geram à saúde. Segundo ela, uma pesquisa para desenvolver métodos para análises desses dispositivos já está em fase inicial junto ao Programa de Pós-Graduação em Farmacologia.