A Justiça condenou a 60 anos de prisão o técnico de vôlei acusado de abusar de crianças e adolescentes num projeto social onde dava aulas da modalidade, na cidade de São José, na Grande Florianópolis. Denunciado pelo Ministério Público, André Wilson Testa, de 31 anos, se aproveitava da posição de superioridade e dos sonhos das vítimas de se tornarem jogadores profissionais para manipulá-las, constrangê-las e estuprá-las. Ele foi sentenciado pelos crimes de estupro de vulnerável e estupro, por induzir jovens ao uso de drogas e álcool, além da submissão a situações vexatórias e de constrangimento. No entanto, tem o direito de recorrer em liberdade.
O caso abalou a comunidade esportiva de São José em 2022. De acordo com a investigação da Polícia, André manipulava e envolvia os adolescentes em situações alheias às atividades esportivas, com o objetivo de praticar abusos sexuais.
A sentença de 60 anos é referente a quatro condenações pelo crime de estupro de vulnerável, uma condenação por estupro e uma por constrangimento ilegal. André também foi condenado pelo crime de fornecer, servir, ministrar e entregar bebida alcoólica para criança ou adolescente, além de submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento. Por fim, foi condenado pelo crime de induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga.
Relembre o caso
O Município de São José mantinha duas “casas atletas”, nas quais abrigava 11 adolescentes do sexo masculino e cinco do sexo feminino que participavam do time de voleibol de um projeto municipal coordenado por uma entidade esportiva sem fins lucrativos. Os jovens estavam sob a responsabilidade de André, com procurações dos pais ou responsáveis legais que lhe outorgavam amplos poderes para representar os atletas.
Em 2022, após denúncias contra o treinador por alguns adolescentes do projeto, foi instaurado um inquérito policial para apurar diversos crimes que teriam sido praticados por ele contra seus atletas. As denúncias incluíam crimes de importunação sexual, estupro de vulnerável, coação no curso do processo, submissão de criança ou adolescente sob sua autoridade a vexame ou a constrangimento e, ainda, fornecimento, serviço, ministração ou entrega, ainda que gratuitamente, a criança ou adolescente, de bebida alcoólica. No decorrer dos fatos, André teve sua prisão preventiva decretada.
Segundo consta nos autos, utilizando a autoridade do cargo de treinador, o réu persuadia os rapazes com brincadeiras íntimas de cunho sexual e fazia convites para passeios com objetivos alheios às atividades esportivas. Nessas situações, segundo depoimentos, induzia os adolescentes a tomarem bebidas alcóolicas, como forma de deixá-los vulneráveis às suas investidas. Levava, então, as vítimas para sua casa ou motel e lá cometia atos libidinosos e estupro. Para permanecer impune, conseguia o silêncio das vítimas com promessas de crescimento na carreira ou ameaças de desligamento do projeto.
Quem é ele
André foi jogador de Vôlei e chegou a ser considerado uma das grandes promessas catarinenses na modalidade. Depois, se destacou como árbitro tendo como ponto alto da carreira a final olímpica entre Brasil e Itália, nos jogos do Rio, em 2016, onde foi juiz de linha (bandeirinha).
Aos 25 anos na época, André trabalhou naquela partida do Maracanãzinho, onde a seleção masculina conquistou o ouro e o tricampeonato olímpico. Seis anos depois, foi detido após uma série de denúncias, algumas delas desde 2017.
Como professor, André atuava na Associação Terra Firme de São José, que recebia dinheiro público da prefeitura. A administração municipal, na época, o afastou das funções assim que tomou conhecimento das denúncias.
Mesmo sendo árbitro, chegou a atuar na equipe adulta de vôlei de São José ao mesmo tempo em que treinava os jovens que disputaram os Jogos Escolares de Santa Catarina. André coordenou também diversas competições a nível local e estadual e foi árbitro no Grand Prix da modalidade. Foi indicado pela Federação Catarinense para representar o estado na Rio 2016.