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MP ouve vítimas de médico que deformou pacientes em cirurgias

Cirurgião é alvo de uma investigação do MPSC e de indiciamento poiicial

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MP ouve vítimas de médico que deformou pacientes em cirurgias
Foto: Reprodução / Arquivo pessoal

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) ouviu, na tarde de sexta-feira (1º), duas mulheres que denunciaram o médico-cirurgião Marcelo Evandro dos Santos por supostas falhas cometidas durante procedimentos cirúrgicos realizados de forma simultânea para fins estéticos, conhecidos como operação X-Tudo. O Promotor de Justiça Wilson Paulo Mendonça Neto destaca que as reclamantes indicaram outras possíveis vítimas, as quais já foram identificadas e também serão ouvidas pela 29ª Promotoria nos próximos dias.

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Além disso, a equipe que conduz as apurações aguarda a apresentação de documentos relativos a uma suposta publicidade ilegal que estava sendo veiculada. Posteriormente, deverá ouvir o próprio médico acusado, seguindo com a apuração integral dos fatos. O promotor ressalta, ainda, que aguarda o retorno das informações solicitadas aos Conselhos Estaduais de Medicina (CRM) do Paraná e de Santa Catarina.

A atuação do MPSC visa, principalmente, estabelecer uma delimitação das regras que traçam as cirurgias plásticas, inclusive quando ocorre mais de um procedimento ao mesmo tempo, como nos casos em questão. A prioridade é garantir aos consumidores o amplo acesso às informações, de forma clara, precisa e específica em relação aos riscos da cirurgia, principalmente quando se desenvolve mais de uma intervenção“, explica.

Logo após tomar conhecimento de que pessoas teriam sido lesadas por esse tipo de procedimento médico estético, a Promotoria abriu notícia de fato para averiguar o teor das acusações. Foram oficiados os CRMs de Santa Catarina e do Paraná, com o objetivo de verificar a regularidade da atuação do médico, confirmando se ele tem especialidade para fins de cirurgia plástica e se esse tipo de procedimento, conhecido como “X-Tudo” é permitido e fiscalizado pelos Conselhos.

Entenda o caso

Além de investigado pelo MPSC, Marcelo Evandro dos Santos também foi alvo de um indiciamento da Polícia Civil por lesão corporal gravíssima, após denúncias de pacientes que sofreram queimaduras, bolhas e até necrose, depois de passarem por procedimentos estéticos realizados por ele..

Ele já foi condenado pelo menos quatro vezes na área civil devido a cirurgias que não tiveram bons resultados. Dentre elas, uma paciente acabou morrendo em 2021, no Paraná, em decorrência de uma lipoaspiração. A família da jovem foi indenizada.

Em um dos novos casos que levaram ao acionamento da polícia, a paciente contou ter ficado 10 horas em cirurgia, quando foram realizados, ao todo, 12 intervenções em seu corpo. O procedimento resultou na remoção de 7 quilos de gordura (por isso, esses procedimentos são chamados pelo próprio cirurgião como cirurgias “X-Tudo”). Posteriormente, ela precisou ficar 11 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada.

Em determinado momento, a paciente começou a apresentar secreções e bolhas de queimadura nas áreas operadas: pernas, braços, barriga e seios. Ao sair da unidade hospitalar, em abril deste ano, ela denunciou o caso à Polícia Civil.

A polícia ouviu uma série de pessoas e profissionais da área. Desta forma, concluiu que uma cirurgia de caráter estético possui um limite de duração menor ao qual a vítima foi submetida. A gordura retirada também tem uma quantidade específica e foi ultrapassada nesta ocasião.

“O delegado apurou que ocorreu uma passagem do que estava previsto pela doutrina, pela literatura, na questão de tempo e, também, na questão de gordura que foi aspirada da vítima“, destacou o delegado-geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel. Se condenado por lesão corporal grave, crime previsto no artigo 129 do Código Penal, o médico poderá ser preso por até cinco anos.

Processos contra o médico

O cirurgião já foi processado na área civil pelo menos sete vezes. Destas, quatro resultaram em condenação por dano moral, incluindo a vítima fatal. Neste caso, a juíza considerou que ele foi responsável pelo óbito, que fazia propaganda enganosa sobre sua especialidade e que foi negligente no procedimento estético.

Além disso, a sentença diz ainda que ele já tinha condenação prévia por erro médico, que fazia procedimentos sem ser especialista, que não era associado à sociedade brasileira de cirurgia plástica e que operava em clínicas onde não havia condições de atender questões urgentes.

CRM

O Conselho Regional de Medicina (CRM) catarinense informou, através de uma nota oficial, que uma sindicância foi aberta para apurar a conduta do profissional. O órgão não pode se manifestar quanto a processos em tramitação. O CRM do Paraná, que também não pode se manifestar, afirmou que o médico está inscrito, regularmente, nos conselhos de ambos os estados.

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