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Interpol: ex-diretor da Americanas é preso na Espanha

Miguel Gutierrez estava em Madri; outra ex-diretora é considerada foragida

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Interpol: ex-diretor da Americanas é preso na Espanha
Foto: Arquivo / Divulgação

O ex-diretor da Americanas Miguel Gutierrez foi preso em Madri, na Espanha, na manhã desta sexta-feira (28). Ele teve a prisão preventiva decretada e era considerado foragido da Justiça no âmbito da  Operação Disclosure da Polícia Federal (PF).

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Gutierrez e Anna Christina Saicali, que também é ex-diretora da empresa brasileira, tiveram os nomes inseridos na Difusão Vermelha da Interpol, a lista de procurados internacionais, desde quinta-feira (27), quando foram alvos de mandados, mas não foram localizados.

Os dois são acusados de participação em fraudes contábeis que chegam a R$ 25,3 bilhões, segundo a PF. Seria a maior fraude da história do mercado financeiro do Brasil. 

Entre os crimes apurados na investigação, estão manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Em caso de condenação, as penas para os ex-executivos da varejista podem chegar a 26 anos de reclusão.

Ex-diretores da Americanas alvos da PF entram na lista da Interpol
Miguel Gutierrez e Anna Christina Saicali. Fotos: Reprodução / Vinicius Loures / Câmara dos Deputados

Americanas: detalhes da investigação

Segundo as investigações, que contam com a colaboração da atual diretoria da empresa Americanas, os ex-diretores praticaram fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, que consiste em uma operação na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.

Também foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que consistem em incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor. Porém, no caso das Americanas, eram contabilizadas VPCs que nunca existiram.

A investigação revelou ainda fortes indícios da prática do crime de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, também conhecido como “insider trading”, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

A investigação contou ainda com o apoio técnico da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Crise das Lojas Americanas

No início de 2023, as Lojas Americanas surpreenderam a todos ao anunciar, sem aviso prévio, um rombo de R$ 20 bilhões em sua conta, uma quantidade oito vezes maior que o seu valor de mercado. A história da crise, no entanto, é resultado de ações errôneas tomadas em 2022 e até em anos anteriores.

O rombo bilionário se refere a balanços errados aprovados neste período. Cerca de uma semana após revelar a fraude em seus balanços, ver suas ações despencarem e trocar de CEO, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial, situação na qual permanece até hoje.

As dívidas chegam a cerca de R$ 43 bilhões, divididas entre aproximadamente 16,3 mil credores. Desses, R$ 27,2 bilhões são créditos a oito bancos, R$ 64,8 milhões são créditos trabalhistas, R$ 41 milhões são créditos quirografários e R$ 109,5 milhões são valores devidos a pequenas e microempresas.

Em abril, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi anunciada na Câmara para apurar o que aconteceu na fraude das Lojas Americanas. A CPI das Americanas teve seu relatório final divulgado em setembro, confirmando a existência de fraude nos balanços da companhia, no entanto, não indiciou possíveis culpados pela crise por “falta de provas”.