A catarinense Daiza Carla Hurtado Lazarte é a criança que há quase 40 anos chocou a TV brasileira ao constranger o apresentador Silvio Santos com uma piada do bambu, ao vivo no SBT. Quase quatro décadas após aquela gafe de uma menina ingênua, Daiza lamentou neste sábado (17) a morte do Dono do Baú.
Silvio Santos morreu em decorrência de uma broncopneumonia após infecção por Influenza (H1N1), em São Paulo. Ele tinha 93 anos.
“Há anos tive a oportunidade de conhecer Silvio de perto e brincar em seu programa. Hoje ao saber da notícia fiquei triste. Ele indiretamente participou das nossas vidas. Fez parte de muitos fins de semana entrando em nossa casa através de seus programas. Hoje certamente o céu está em festa. Dessa forma, meu desejo é que Deus traga conforto e paz a todos os seus entes”, escreveu ela.
Num domingo de 1985, Daiza contou o que ficou conhecida como a “piada do bambu” no quadro matinal “Domingo no Parque”, dentro do Programa Silvio Santos, que entrou para a história da TV. “Qual é a diferença entre o poste, o bambu e a mulher?”, perguntou a então criança. Silvio respondeu: “Lá vem besteira”. A garotinha retrucou: “O poste dá luz em cima, a mulher dá à luz em baixo”. “E o bambu?”, perguntou Silvio. “Enfia no teu c*”, disse a menina, deixando o apresentador por alguns segundos sem ação. Confira o vídeo, que voltou a circular nas redes sociais com a morte do apresentador:
Conhecido pelo bom humor e jogo de cintura, é claro que Silvio se ‘recuperou’ e emendou ‘sem vergonha’, enquanto dava risada.
Depoimento nobre os bastidores da piada
Há dois anos, Daiza já havia usado sua conta no Instagram para revelar mais detalhes sobre o dia em que contou a piada do bambu e deixou estarrecidas as famílias que se reuniam aos domingos para apreciar o programa do Rei da TV.
“Em 1985 eu era uma menina pobre que morava em um bairro da periferia. Na época tive a oportunidade de ir a um programa de televisão ver o mundo! Foi um momento único, mas cercado de muitas histórias tristes, como o fato de eu não ter um calçado adequado para usar no dia da gravação. Acontece que o prêmio para a melhor piada era um tênis Montreal (objeto de desejo nos anos 80).
Em minha inocência infantil, me foi dada a oportunidade de contar uma piada e, sem saber melhor, contei uma piada de teor ofensivo. Cresci. Me converti ao evangelho e me tornei uma profissional. Apesar de tudo isso, revisitar essa história sempre foi algo que me gerou muita dor e insegurança – pois somente quem de fato nos acompanhou tinha ideia do que aquele tempo significava. Por muitas vezes usaram a minha imagem indevidamente sem ter a dimensão do que me causariam.
E então, veio a oportunidade recente de assumir a narrativa da história e mostrar um outro lado. Tive a oportunidade de me desculpar com o Silvio Santos pelas palavras grosseiras que usei na época. A menina dos anos 80 deu lugar a uma mulher que teme ao Senhor e que entende a importância da segunda chance e de nos retratarmos pelo que fizemos”, disse ela. Daiza hoje reside em São Paulo. Formada em Comunicação Social, com pós-graduação em Gestão Empresarial, trabalha como analista financeira. É casada e tem uma filha.
Processo contra a Rede TV
No ano de 2006, Daiza entrou com uma ação na Justiça contra o programa Pânico, da Rede TV, que usou sua imagem no humorístico. Na ocasião, a atração fez reportagem para mostrar como estava a menina que ficou conhecida pela piada obscena.
Naquela oportunidade Daiza – que é evangélica e bolsonarista – foi derrotada e ainda precisou desembolsar dinheiro para pagar os advogados da emissora paulista. Na ação que moveu, ela declarou que, entre 19 e 26 de novembro de 2006, o extinto Pânico na TV, na época exibido na RedeTV!, utilizou imagens dela quando criança. Além disso, ela disse no documento que o vídeo provocou diversas críticas, humilhações e constrangimentos.
Em sua defesa, o programa salientou que utilizaram imagens que estavam disponibilizadas de forma gratuita até mesmo no YouTube. Além disso, o humorístico ainda afirmou que não colocou o nome ou identificação da mesma. Da mesma forma, a RedeTV! declarou que não utilizou na matéria do Pânico o nome ou outro elemento da autora que tornasse possível a sua identificação. A Justiça entendeu que o antigo programa da RedeTV! agiu dentro da liberdade artística e que a reportagem não afetou a “menina do bambu”, como ela ficou conhecida.