Região Grande Florianópolis

Médico é indiciado após fazer vítimas em cirurgias estéticas em SC

Ele poderá responder por lesão corporal grave, com pena de até cinco anos de prisão

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Médico é indiciado após fazer vítimas em cirurgias estéticas em SC
Foto ilustativa: Reprodução / Internet

A Polícia Civil está indiciando um cirurgião plástico que atua em Florianópolis pelo crime de lesão corporal gravíssima, após denúncias de pacientes que sofreram queimaduras, bolhas e até necrose, depois de passarem por procedimentos estéticos realizados por ele. O médico Marcelo Evandro dos Santos também está sendo investigado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).

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O alvo do indiciamento já foi condenado pelo menos quatro vezes na área civil devido a cirurgias que não tiveram bons resultados. Dentre elas, uma paciente acabou morrendo em 2021, no Paraná, em decorrência de uma lipoaspiração. A família da jovem foi indenizada.

Em um dos novos casos que levaram ao acionamento da polícia, a paciente contou ter ficado 10 horas em cirurgia, quando foram realizados, ao todo, 12 intervenções em seu corpo. O procedimento resultou na remoção de 7 quilos de gordura. Posteriormente, ela precisou ficar 11 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada.

Em determinado momento, a paciente começou a apresentar secreções e bolhas de queimadura nas áreas operadas: pernas, braços, barriga e seios. Ao sair da unidade hospitalar, em abril deste ano, ela denunciou o caso à Polícia Civil. O inquérito foi finalizado nesta segunda-feira (14).

A corporação ouviu uma série de pessoas e profissionais da área. Desta forma, concluiu que uma cirurgia de caráter estético possui um limite de duração menor ao qual a vítima foi submetida. A gordura retirada também tem uma quantidade específica e foi ultrapassada nesta ocasião.

O delegado apurou que ocorreu uma passagem do que estava previsto pela doutrina, pela literatura, na questão de tempo e, também, na questão de gordura que foi aspirada da vítima“, destacou o delegado-geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel.

Se condenado por lesão corporal grave, crime previsto no artigo 129 do Código Penal, o médico poderá ser preso por até cinco anos.

Processos contra o médico

O cirurgião já foi processado na área civil pelo menos sete vezes. Destas, quatro resultaram em condenação por dano moral, incluindo a vítima fatal. Neste caso, a juíza considerou que ele foi responsável pelo óbito, que fazia propaganda enganosa sobre sua especialidade e que foi negligente no procedimento estético.

Além disso, a sentença diz ainda que ele já tinha condenação prévia por erro médico, que fazia procedimentos sem ser especialista, que não era associado à sociedade brasileira de cirurgia plástica e que operava em clínicas onde não havia condições de atender questões urgentes.

CRM

O Conselho Regional de Medicina (CRM) catarinense informou, através de uma nota oficial, que uma sindicância foi aberta para apurar a conduta do profissional. O órgão não pode se manifestar quanto a processos em tramitação. O CRM do Paraná, que também não pode se manifestar, afirmou que o médico está inscrito, regularmente, nos conselhos de ambos os estados.

Resposta do cirurgião

Marcelo Evandro dos Santos divulgou uma nota quanto aos casos:

Em 23 anos na área da medicina, atuando nas especialidades de cirurgia geral e cirurgia plástica, sempre priorizei a saúde e o bem-estar dos meus pacientes, prestando o atendimento mais personalizado e humano possível, além de seguir e respeitar o Código de Ética Médica e todos os princípios e valores da profissão.

Solicito todos os exames necessários e forneço todas as orientações pré e pós-operatórias, além de estar sempre à disposição dos meus pacientes para atendimento e acompanhamento em casos de eventuais intercorrências. Esclareço que existem reações biológicas inerentes a cada paciente, as quais são informadas em termos de consentimento antes de cada cirurgia.

Como membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Society of Aestgetic Plástico Surgery (ISAPS) e da Associação Brasileira de Cirurgiões Plásticos (BAPS), estou em constante atualização profissional, realizando cursos de qualificação e participando de congressos voltados ao conhecimento e aprimoramento do domínio dos procedimentos em cirurgia plástica. Realizo uma média de 300 cirurgias por ano e, em todas, utilizo as técnicas mais modernas e recomendadas dentro da especialidade.

O Código de Ética Médica veda que o profissional exponha fatos dos quais teve conhecimento em razão de sua função, mesmo que tornados públicos. Além disso, os processos citados nesta matéria encontram-se sob sigilo processual. Por tais razões, minha manifestação sobre cada caso continuará sendo feita nos autos das respectivas ações.

Tenho confiança na ética e no comprometimento com que conduzo o meu trabalho e estou seguro de que todas as acusações serão esclarecidas na justiça.”