Região Grande Florianópolis

Procon instaura processo contra médico que fez vítimas em SC

Além da defesa do consumidor, cirurgião está na mira da polícia e do MPSC

Autor
Procon instaura processo contra médico que fez vítimas em SC
Foto ilustrativa: Ricardo Trida / SECOM

O Programa de Proteção ao Consumidor (Procon) de Santa Catarina instaurou um processo administrativo contra o cirurgião plástico que causou danos graves em uma paciente em Florianópolis. O órgão de defesa ao consumidor catarinense colheu o depoimento de Leticia Mello e apura denúncias de pelo menos outras 20 vítimas lesadas pelo médico.

PUBLICIDADE

A vítima, ao formalizar a denúncia no Procon, contou que precisou gastar R$ 600 mil para uma cirurgia corretiva realizada por outro médico. Ela diz ter autorizado a divulgação de sua história com a esperança de justiça, para que esse tipo de crime não se repita e como forma de alertar consumidores que planejam cirurgias plásticas.

“Procurei o cirurgião plástico para melhorar minha aparência física. Me ofereceram outros procedimentos com muita convicção e propriedade, com total confiança, então decidi fazer os demais procedimentos. Não fui avisada que foram 12 [procedimentos]. Não foi explicado que cada região era considerada um procedimento. Não sabia o total de cirurgias, não sabia que havia um percentual [limite] de gordura a ser retirado, o que foi ultrapassado. E não foi passado o que estava acontecendo comigo. Ele levantou a possibilidade de uma anemia, porém, como pediu inicialmente todos os exames médicos, ele olhou e deu permissão à cirurgia”.

“Hoje eu clamo por justiça pois não sou uma estatística de mulheres que entraram em centro cirúrgico e saíram sem vida. Eu sobrevivi! Fui forte para passar 75 dias de internação, mais de 5 procedimentos cirúrgicos após a cirurgia plástica para poder estar viva hoje. Eu sei que existem outras mulheres que têm suas dores emocionais e físicas causadas por este cirurgião. Nós queremos justiça!”, pontuou Leticia.

Histórico criminal

O médico foi indiciado pela Polícia Civil por lesão corporal grave na última segunda-feira (14) e irá responder por causar queimaduras, bolhas, necrose e perda de tecido em Leticia. Ele realizou o que chamou de “Cirurgia X Tudo”: foram 12 procedimentos no mesmo dia, com duração de 10 horas e a remoção de 7 quilos de gordura. Após a operação, a paciente ficou 11 dias em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de 2 meses internada. O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou que uma investigação foi instaurada para verificar a legalidade desses procedimentos.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica estipula normas como: informar o paciente sobre os riscos, não exceder o limite de retirada de gordura (até 7% do peso corporal), não ultrapassar mais que 40% da superfície do corpo e não deixar o tempo de protocolo anestésico passar de 8 horas. O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) apura o caso em sigilo, de acordo com a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM).

O cirurgião plástico apresentava-se como “referência em mamas, abdome e lipo ugraft” em sua rede social, onde angariou mais de 37 mil seguidores. Ele atendia pacientes na Capital e também em Itajaí, além de cidades do Paraná. O médico também é alvo de processo criminal decorrente da morte de uma paciente em Curitiba, em 2012.

Dados do Procon

Apenas neste ano, o Procon estadual registrou 17 reclamações relacionadas a procedimentos estéticos, como botox, harmonização facial e preenchimento labial. Deste número, duas causaram danos corporais. Em 2023, houve 34 reclamações relacionadas a procedimentos estéticos, com 5 danos corporais.

Estes números não incluem as reclamações ligadas à depilação a laser: 132 reclamações em 20 cidades neste ano. Somados, foram 149 reclamações de procedimentos estéticos em 2024.