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Ex-prefeita diz que deputado cobrava 15% de propina por emenda

Polícia fez buscas no gabinete do cearense Junior Mano (PSB), nesta terça-feira (8)

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Ex-prefeita diz que deputado cobrava 15% de propina por emenda
ex-prefeita Ximenes que acusa o deputadeo Junior Mano. Fotos: divulgação

Uma investigação apontou indícios que o deputado federal Junior Mano (PSB/CE) usava prefeituras para lavar dinheiro de suas emendas parlamentares. Após uma operação de busca e apreensão feita pela Polícia no gabinete de Mano em Brasília e também em endereços ligados a ele que ocorreu na terça-feira (8), o inquérito foi enviado nesta quarta (9) ao STF (Supremo Tribunal).

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A investigação começou com um depoimento que apontou que Junior Mano cobrava retorno de 15% sobre os valores que enviava aos municípios investigados. O inquérito foi aberto, inicialmente, para apurar a suspeita de compra de votos nas eleições de 2024 por parte de Bebeto do Choró, que concorria a prefeito da cidade de Choró (CE). Eleito, ele não tomou posse em razão da investigação e hoje está foragido.

Em setembro de 2024, a ex-prefeita de Canindé (CE), Rozário Ximenes disse, em depoimento à Polícia Federal, que havia uma organização criminosa liderada por Bebeto e Junior Mano para lavar dinheiro de emendas.

“A lavagem consiste em contatar o gestor, oferecendo por exemplo R$ 1 milhão, com retorno de 15% pra ele”, disse Ximenes, segundo o relatório da PF. A ex-prefeita disse ainda em seu depoimento que “Bebeto trabalha para 51 prefeituras, juntamente com Junior Mano” e que “o deputado concede as emendas, manda para ele e ele lava”.

Em nota, Junior Mano negou participação em qualquer irregularidade. “O deputado Júnior Mano não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos”, disse ele. Uma reportagem sobre o assunto foi publicada em primeira mão no Portal Uol, mas os advogados de Bebeto do Choró não foram localizados.

Em 25 de setembro de 2024, foram apreendidos cerca de R$ 600 mil na posse de uma policial militar. Esse dinheiro pertenceria, segundo aponta a investigação, ao dono de uma empresa de fachada ligada à organização criminosa.

Nesse mesmo dia, a PF identificou contatos entre a irmã de Bebeto do Choró, Cleidiane de Queiroz Pereira, também suspeita de ser integrante do esquema, e os deputados Junior Mano e Yury do Paredão (MDB-CE).

O levantamento mostra que quase a metade (45%) das emendas individuais do deputado, entre 2021 e 2024, foi na modalidade de transferências especiais, chamada de “emenda Pix”, quando não há necessidade de apresentação de um plano de trabalho prévio.

Foram R$ 47 milhões dessa maneira, num total de R$ 104 milhões em emendas, de acordo com o Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento (Siop).

O ministro Gilmar Mendes, relator do caso no STF, determinou a abertura de uma investigação específica sobre desvio de dinheiro de emendas parlamentares.

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