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Argentina vai às urnas neste domingo para escolher o novo presidente

País vizinho sofre com crise econômica e inflação anual de 138%

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Argentina vai às urnas neste domingo para escolher o novo presidente
Massa, Patrícia e Milei. Fotos: divulgação

Os eleitores argentinos vão às urnas neste domingo (22) para escolher o novo presidente da República. Em meio à disparada da inflação e à maior crise cambial das últimas décadas, mais de 35 milhões de cidadãos estão aptos a votar. A situação econômica do País deve ser o fator determinante na escolha dos eleitores. A inflação atingiu a marca dos 138,3% nos últimos 12 meses. Desde o início do ano, o preço dos alimentos subiu mais de 150%.

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A moeda argentina também tem acentuado seu declínio frente ao dólar. Dois dias antes dos dados oficias de inflação serem divulgados, o valor de um dólar americano rompeu pela primeira vez o patamar de 1 mil pesos no câmbio paralelo, aquele que verdadeiramente vigora nas ruas do país, pela primeira vez. Desde então, o câmbio tem se mantido próximo da marca histórica, pressionando ainda mais a inflação e jogando famílias inteiras na pobreza, flagelo que já atinge mais de 40% da população do país.

De acordo com especialistas, os problemas vividos pelos argentinos remontam há pelo menos duas décadas, e as experiências dos últimos dez anos devem ser determinantes na hora de depositar o voto na urna, sobretudo entre o eleitorado mais jovem. Isso porque as duas correntes predominantes da política argentina – o peronismo e o antiperonismo – se alternaram nos últimos dois governos, sem que nenhum dos lados conseguisse conter a deterioração da economia.

Para a professora de Relações Internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Miriam Saraiva, as duas alternativas tradicionais sofreram desgaste com isso. “Tivemos dois governos sequenciais – o primeiro do partido do Mauricio Macri, o outro do Partido Socialista, de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner – e os dois não conseguiram controlar a situação econômica”, ressalta ela.

Na esteira desses fracassos, quem ganhou notoriedade, surgindo como o novo salvador da pátria, foi o economista Javier Milei, mais votado nas primárias de agosto, quando os argentinos escolheram quem seriam os candidatos da corrida presidencial. Liberalismo Autodenominado “anarcocapitalista”, Milei costuma se expressar com bastante estridência e se coloca como representante de um liberalismo extremo.

Fotos: divulgação

Entre suas propostas estão a redução drástica de subsídios e do aparato estatal, bem como a dolarização da economia, medida vista como inviável por economistas menos radicais. Milei também já declarou que, se for eleito, pretende cortar totalmente as relações econômicas e políticas com o Brasil.

Assim como no Brasil, na Argentina também é permitido votar a partir dos 16 anos, e os jovens, sobretudo homens, grupo dos mais atingidos pelo desemprego, tem apostado em Milei como um voto rebelde e de aposta na incerteza, avalia Raphael Seabra, professor do departamento e Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília (UnB). “Ele acusa toda casta política por todos os males do país, e sabe usar muito bem as redes sociais, coisa que a esquerda e a direita tradicional não sabem”, aponta o acadêmico.

“Para uma juventude que nasceu no inicio da década de 2000, que sempre viveu sob o kirchnerismo ou o macrismo, e nenhum dos dois deu uma solução para o drama argentino, surge um personagem que se diz fora dessa coalizão. Para essa juventude, o Milei parece uma aposta viável”, completa.

Esquerda e direita

A disparada na desvalorização do peso no dia seguinte à vitória de Milei nas primárias, contudo, é um indicativo de que as incertezas trazidas por sua candidatura podem não ser tão palatáveis para o eleitor mais velho e urbano, que vive em Buenos Aires, mais próximo das elites econômico-financeiras do país. Pelas pesquisas de intenção de voto, os outros dois candidatos – representantes do macrismo e peronismo kirchnerista – disputam a liderança, todos com chances de irem a um eventual segundo turno, ainda que Milei apareça ligeiramente à frente dos demais.

De uma lado está Sergio Massa, do partido peronista União pela Pátria, atual ministro da Economia da Argentina. Trata-se de um político experiente, advogado, que conquistou as primárias de seu partido depois da terceira tentativa. Ele já foi também presidente da Câmara dos Deputados. Curiosamente, Massa não ficou identificado como responsável pela crise atual na Argentina, apesar de ter assumido a pasta da Economia há um ano, já diante de um descontrole cambial. “Ele ficou mais identificado como uma espécie de bombeiro, alguém confiável para tocar o barco quando a coisa sai de controle”, avalia a pesquisadora Miriam Saraiva.

Do lado conservador está Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança. Ex-ministra da Segurança do governo Macri (2015-2019), a cientista política e jornalista é nascida em Buenos Aires e proveniente de uma aristocrática família argentina, com ligações centenárias no comércio de gado. Envolvida na política desde a adolescência, ela se apresenta como uma liberal linha dura, convertida após um passado ligado à Juventude Peronista.

Regras

Para vencer no primeiro turno das eleições, é preciso que um dos candidatos receba ao menos 45% dos votos válidos – excluídos votos brancos e nulos. Pela constituição argentina, a vitória em primeiro turno também ocorre caso algum dos candidatos receba apenas 40% dos votos válidos, mas com uma diferença de pelo menos dez pontos sobre o segundo mais votado. Até o momento, as pesquisas não apontaram a ocorrência de nenhuma das situações e indicam um provável segundo turno.

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