O debate da UFSC, na sexta-feira (20), foi bastante elucidativo, com informação e diversão aos espectadores. Os estúdios da Secretaria de Educação a Distância (SEAD), de onde o evento foi transmitido pela TVUFSC, recebeu seis dos candidatos mais cotados nas pesquisas: Dário Berger (PSDB), Lela (PT), Marquito (PSOL), Pedrão Silvestre (PP), Rogério Portanova (Avante) e Topázio Neto (PSD).
O debate foi dividido em cinco blocos e durou cerca de duas horas. Os candidatos discutiram temas como educação, saúde, segurança pública, mobilidade urbana, saneamento básico, habitação, assistência social, geração de emprego e renda, e enfrentamento aos eventos climáticos.
Assim como em debates anteriores, as críticas à gestão do atual prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, pautaram grande parte das discussões. A maior parte dos comentários relacionava a prefeitura a casos de corrupção e má administração.
Caixa quebrado e corrupção
No segundo bloco, destinado a perguntas com tema livre, Lela afirmou que Topázio acabou “quebrando a cidade e o caixa da prefeitura”, o que implica, segundo ele, diretamente na falta de medicamentos, atendimentos na área da saúde e vagas em creches.
Já Pedrão (PP) disse que, quando “você vê uma placa da prefeitura de Florianópolis, vê junto à palavra corrupção, inconfiável, estão me roubando”. De acordo com ele, das 18 secretarias municipais da cidade, seis estão envolvidas com corrupção. O candidato questionou sobre os feitos de Topázio enquanto vice-prefeito de Gean Loureiro (União) e mencionou que um “empurra” para o outro os casos de corrupção. Pedrão então perguntou quem é o dono da corrupção?
Ao se defender, Topázio citou que, como vice, desenvolveu uma série de projetos voltados para a tecnologia e empregabilidade. Sobre os episódios de corrupção, ele disse que “está na mão da polícia e ela vai decidir quem é o culpado“. Acrescentou ainda que é preciso analisar quais são os casos de corrupção e quem era o prefeito na época do ocorrido.
O sofisma e a toupeira
Na réplica, Pedrão reiterou que sua pergunta não foi respondida e completou: “o senhor nomeou ou não Edmilson Carlos Pereira e alguns dos outros que foram presos? Foi na sua gestão ou na gestão do Gean Loureiro?”, fazendo referência a ex-secretários municipais investigados na Operação Presságio. Topázio argumentou dizendo que “todo mundo que foi indicado com relação à corrupção foi afastado da prefeitura, já no indiciamento”.
Ao ter o direito de resposta aceito, Topázio falou que é preciso “passar a limpo essa questão de que a prefeitura está quebrada”, reafirmando que o discurso dos adversários estava combinado. “A prefeitura está com os salários em dia, adiantamos o 13º [salário], acabamos de construir um hospital, os serviços públicos estão funcionando, a cidade está em pleno desenvolvimento”.
Relação com sindicatos
Ao ser questionado por Topázio sobre sua visão a respeito dos sindicatos, Portanova lembrou que foi duas vezes vice-presidente da Apufsc, onde ainda é membro do Conselho de Representantes (CR), e afirmou que “o sindicato é uma representação dos trabalhadores que, infelizmente, foi completamente desmontada pelo governo Bolsonaro e que pagamos muito caro por isso.” Para Portanova, a valorização do servidor é muito importante e se dá pela sua organização através do sindicato, que não pode ser criminalizado. Assim, “atacar o sindicato é atacar o próprio servidor, o trabalhador.”
Situação da saúde em Florianópolis
“A gente vem encontrando na nossa cidade uma situação caótica na saúde. Chegou ao ponto em que, em vários postos de saúde, as pessoas ficam esperando de madrugada para tentar um atendimento médico”, declarou Lela. Segundo o candidato, mais de 50 mil pessoas aguardam por exames médicos na capital; para ele, essa situação é fruto “de um modelo de gestão bolsonarista que não cuida das pessoas.”
Ao debater o tema, Marquito defendeu que a atenção primária tem sido desmontada e faltam profissionais nos postos de saúde. “A prefeitura de Florianópolis optou por ter um sistema privado, contratado, para a marcação de consultas e exames, ao invés de utilizar o sistema público, que é o e-SUS, que foi inclusive desenvolvido na UFSC e que é utilizado pelo SUS em todo o Brasil e em várias cidades. Esse problema da marcação de consultas e exames é consequência desse sistema que não dialoga com o da região.”
Dário também falou sobre o assunto. Ele lembrou que quando foi prefeito construiu a UPA 24 Horas do Rio Tavares e que hoje ela e a policlínica estão fechadas. “Para mim, é uma questão muito cara passar por aí e ver um prédio deteriorado e destruído.” Ele acrescentou ainda que a saúde é um bem de expectativa infinita e que “um prefeito não fecha portas, ele abre portas.”
Mobilidade urbana
Durante a rodada com o tema “mobilidade urbana”, Pedrão perguntou se Topázio não achava que era “jogar baixo com a população do Maciço” implementar os ônibus “Formiguinha” às vésperas da eleição. “Você foi dois anos vice-prefeito e mais dois como prefeito e, na boca da eleição, o senhor deseja resolver o problema do Maciço. Por que não resolveu antes, uma vez que você aumentou o subsídio das empresas de ônibus assim que assumiu a prefeitura?” O atual prefeito rebateu dizendo que Pedrão “não sabe dos números da prefeitura e ficou claro que o candidato é contra o projeto do Formiguinha.”
Em outro momento, já no quarto bloco, o candidato do Progressistas voltou ao assunto e se defendeu dizendo que “quem não entendeu a minha fala dizendo que [o Formiguinha] é um bom projeto, que nasceu na época do ex-prefeito Sérgio Grando e que agora foi executado como um desespero eleitoral, é toupeira.”
Na avaliação desse colunista aqui, Pedrão venceu o debate. Mas Portanova e Lela também foram muito bem.
Pedrão foi papo reto, com postura incisiva e sem papas na língua. Portanova, num trecho em que precisou ser interrompido por um erro grosseiro dos organizadores, revelou que já foi do PT, onde enfrentou dificuldades para se sobressair e obter indicações a concorrer. Foi a mágoa sendo expelida, as verdades secretas dos bastidores da esquerda. Fora dos seus poucos segundos da propaganda da TV, Portanova se revelou melhor do que parece. E até seu microfone, desta vez funcionou decentemente.
Fora da bolha
Lela se mostrou um intelectual bem articulado, e isso explica por que foi o escolhido pelo PT sem nunca ter sido petista. O PT nunca teve e não tem um quadro com essas duas características, por isso foi buscar fora de suas bases.
Dário e Marquito me decepcionaram um pouco. O primeiro, com respostas decoradas, que fugiam do assunto. O segundo, ja sabemos, maior autoridade possível em meio ambiente e temas afins. Mas sinto falta de sua desenvoltura forta da bolha vegana, das bikes e das lutas ambientalistas.
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