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Dez anos sem Ricardinho, morto pelas costas por um policial covarde

Há uma década, eu fui o primeiro repórter no mundo a publicar a notícia da tragédia na Guarda do Embaú

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Dez anos sem Ricardinho, morto pelas costas por um policial covarde
Foto: divulgação

Nesta semana, uma cerimônia reuniu amigos, familiares e admiradores do surfista Ricardo dos Santos, o Ricardinho, assassinado por um policial militar covarde em janeiro de 2015. O encontro serviu para lembrar os 10 anos do crime, na praia da Guarda do Embaú, onde Ricardinho vivia e foi morto.

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Eu fui o primeiro jornalista no mundo a noticiar o crime. Uma notícia que jamais gostaria de ter dado, mas as tragédias também fazem parte dessa profissão, que escolhi e que exerço há 35 anos.

Naquela época, meu expediente na redação onde eu trabalhava iniciava às 7h. Eu acordava às 5h30, e vinha do Monte Verde, onde morava, de ônibus para o Centro de Floripa, onde ficava a redação.

Por volta das 7h30, observei uma postagem no twitter dos bombeiros de Santa Catarina, sobre uma pessoa ferida a tiros na Guarda do Embaú. Ainda sem sequer desconfiar de quem fosse a vítima, liguei para uma fonte que reside na Guarda para tentar mais informações. Ainda sem saber o tamanho da tragédia, minha fonte me informou apenas que um surfista havia levado um tiro.

Covarde e cruel

Com essa pista, liguei para o então presidente da Federação Catarinense de Surfe, Fred Leite. Ele não sabia de nada ainda, mas cravou uma suspeita: só podia ser o Ricardinho. Fred me pediu uns minutos, pra ligar para a família, e que eu o retornasse em breve.

Dois minutos depois, liguei novamente para o presidente, que me confirmou o que já temíamos. Ricardinho estava morto.

A minha primeira publicação a respeito, ainda por volta das 8h, não trazia as informações sobre o algoz, o assassino covarde e cruel que atirou em Ricardinho pelas costas. Luis Paulo Brentano era policial militar em Joinville, e estava de férias com um irmão adolescente.

Assassino usava drogas no carro

Após uma noite de festa pela Guarda, Luis Paulo dirigiu seu carro até um dos becos e servidões entre a praia e a área de mata, todas ruas sem saída onde residem algumas famílias. O policial procurou um local reservado para usar alguma droga junto com o irmão. E estacionou bem em frente à casa de Ricardinho.

O surfista especialista em ondas grandes e conhecido em todo o mundo havia combinado com o avô na véspera da sua morte. Os dois iriam acordar cedo para escavar a rua em frente de casa, para instalar uma nova tubulação de esgoto ou água. No entanto, antes das 7h da manhã, Ricardinho se deparou com o carro estacionado, com os dois homens em atitude suspeita. Nunca se soube se era cocaína ou maconha o que regava a festinha dentro do carro.

Ricardinho então pediu para que o homem retirasse o carro dali, o que gerou uma discussão. O surfista virou as costas e Luis Paulo disparou de dentro do veículo.

Luis Paulo foi expulso da PM, foi condenado dois anos depois e chegou a cumprir um pouco da pena, até receber o benefício do semi-aberto durante a pandemia.

Hoje Luis Paulo Mota Brentano segue livre circulando pela sua Joinville, pelo menos até cometer seu próximo crime.

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