O rompimento do reservatório da Casan que se rompeu no começo de setembro na região continental de Florianópolis ganhou na terça-feira (21) uma resposta ao principal questionamento que vem sendo repetido desde então. A Polícia Científica de Santa Catarina, responsável pela perícia feita no local após o acidente, divulgou um lado que aponta falhas na execução e erros na fiscalização da obra.
Os peritos reforçaram ainda que não foi encontrada nenhuma falha evidente no projeto inicial e engenharia civil. O relatório foi apresentado pelo superintendente regional da Polícia Científica em Florianópolis, Cassiano Mozar Fachinello Bremme, numa audiência com a Comissão Mista da Alesc criada especialmente para apurar o caso, ocorrido no bairro Monte Cristo, na madrugada de 6 de setembro.
Cassiano revelou também que outras duas perícias foram feitas no local do acidente, uma para avaliar os possíveis danos ambientais e outra para calcular os danos patrimoniais. As investigações apontaram divergências entre o projeto estrutural e a obra executada, confirmando o que a Comissão já havia apontado anteriormente, a partir da análise de relatório interno elaborado pela própria Casan.
Entre as irregularidades encontradas na execução, os peritos apontaram o uso de estribos com diâmetro difeerentes do sugerido no projeto, que previa 10mm posicionados a cada 20cm na região intermediária do pilar. No entanto, os estribos encontrados no local eram de 5mm de diâmetro espaçados em 20cm, o que corresponde a 1/4 da resistência projetada.
Outra irregularidade diz respeito às barras do pilar, que estavam posicionadas de forma inadequada. Segundo Cassiano, o projeto estrutural previa 13 barras de 25 mm a serem posicionadas na face externa do pilar, na região de intersecção entre o pilar e a parede. No local do colapso, no entanto, se constatou que as barras não estavam posicionadas conforme indicado no projeto.
Por fim, também foi detectado ausência de armadura adicional de ligação pilar-parede. De acordo com Cassiano, no local haviam apenas oito barras, cinco a menos do que constava no projeto. “É possível garantir que existem oito barras, mas estão deslocadas da área do projeto”, afirmou ele.
Para a perícia, o motivo principal do desastre está relacionado ao aço. “As causas principais são as armaduras que, ou não foram executadas, foram mal posicionadas ou executadas da forma errada, com bitola menor, uma quantidade menor e com espaçamento maior, o que acarreta em menos material. Especificamente esse problema com o aço propiciou que as paredes descolassem dos pilares, ocasionando a ruína que nós vimos”, completou o superintendente.
Disso, durante a reunião, o relator da Comissão, deputado Mário Motta (PSD), apresentou dados inéditos sobre a qualidade do concreto utilizado no reservatório. De acordo com as análises, inseridas no inquérito civil, que tramita na 29ª Procuradoria de Justiça da Capital (MPSC), 70% das amostras extraídas do reservatório não atingiram a resistência projetada. Especificamente sobre a parede colapsada (parede sul), das quatro amostras extraídas, três apresentaram resistência abaixo da projetada.
Segundo o perito ouvido na reunião, apesar de grave, este não foi o fator determinante. “Entendemos que o concreto em si, mesmo com resistência mais baixa, não é o causador do rompimento, mas sim a armadura”, reforçou Cassiano.
Mário Motta ressaltou que as informações da Polícia Científica são fundamentais para o entendimento do acidente, mas outras participações ainda são esperadas para a identificação do que levou ao rompimento. “Nós ainda dependemos de outras oitivas, como da própria empresa Gomes & Gomes que deve estar presente em reunião da Comissão. A própria empresa deve estar interessada em comparecer e responder a dúvidas sobre a execução da obra”, disse ele.
O representante da Agência de Regulação de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc), que também era aguardado nesta oitiva, não compareceu à reunião.
Próximas reuniões
Na terça-feira (28), o diretor-presidente da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), Edson Moritz Martins da Silva, será novamente convidado a comparecer para prestar os últimos esclarecimentos. Também serão chamados representantes da comunidade do Monte Cristo e do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).
A Comissão
Criada no dia 11 de outubro, a Comissão Mista é composta pelos deputados Ivan Naatz (PL), presidente; Marcos Abreu, o Marquito (Psol), vice-presidente; Mário Motta (PSD), relator; e pelos deputados Maurício Peixer (PL) e Antídio Lunelli (MDB) como membros.
A Comissão é formada por parlamentares da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público e da Comissão de Turismo e Meio Ambiente e tem um prazo oficial de 60 dias para concluir os trabalhos.