
O contraste entre as lindas praias de Florianópolis e a presença cada vez mais comum de cães nas faixas de areia levanta questões de saúde pública, ambientais e legais. Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontou que a convivência entre animais de estimação e banhistas, embora comum, ainda carece de regulamentação e fiscalização adequadas, o que pode trazer sérios impactos para o equilíbrio ecológico e a saúde coletiva.
Com a crescente proximidade entre humanos e seus pets, aumentam também as demandas por espaços públicos que acolham essa relação. No entanto, a pesquisa realizada pela médica veterinária Carla Roberta Seára Willemann em seu mestrado alerta que essa convivência em áreas como praias deve seguir diretrizes rigorosas.
A contaminação da areia por dejetos animais, como fezes com parasitas, é um dos principais riscos apontados pela pesquisa. Entre eles, destaca-se o “bicho geográfico”, frequente nas areias e potencialmente perigoso para os humanos, especialmente nos meses de verão.
Além das ameaças à saúde humana, a presença de cães também representa risco à fauna local. Espécies costeiras como aves e tartarugas podem ser impactadas, especialmente quando os animais apresentam comportamento agressivo ou estão soltos. Os ataques a pessoas e a outros animais, embora nem sempre registrados oficialmente, também preocupam. A pesquisa ainda destaca a falta de dados sobre doenças zoonóticas e a ausência de monitoramento constante da qualidade da areia nas praias da capital catarinense.
Uma lei municipal proíbe cães nas praias da Capital
Apesar da existência de uma lei municipal de 2001 que proíbe a circulação de cães nas praias da cidade, é comum encontrar animais acompanhados de seus tutores, ou mesmo soltos, nas faixas de areia. Atualmente, dois projetos tramitam na Câmara Municipal: um, de autoria da vereadora Pri Fernandes (PSD), propõe liberar o acesso mediante critérios como vacinação, microchipagem e responsabilização dos tutores; o outro, da Prefeitura, sugere restringir horários e locais, além de aplicar multas para quem não recolher os resíduos dos animais.
Para que cães possam frequentar as praias de forma segura e responsável, a pesquisa propõe medidas como vacinação obrigatória, coleiras, áreas delimitadas, microchipagem e estrutura de saneamento adequada. No caso de Florianópolis, porém, a ausência de infraestrutura e de controle efetivo torna inviável a liberação no momento.
A recomendação, segundo a autora, é manter a proibição vigente, reforçar a fiscalização e buscar alternativas urbanas seguras fora das zonas de preservação. O estudo conclui que qualquer mudança futura deve se basear no princípio da “Uma Só Saúde”, que integra os aspectos humanos, animais e ambientais como partes interdependentes de um mesmo sistema.