Região Balneário / Itajaí

Áudios confirmam pré-venda de licitações das prefeituras por Pavan e Juliana

Conversas foram vazadas após a prisão de um suposto intermediário do esquema

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Áudios confirmam pré-venda de licitações das prefeituras por Pavan e Juliana
Jiliana e Pavan, filha e pai ambos concorrendo à prefeitura em suas cidades. Foto? divulgação

As denúncias contra o ex-senador e ex-governador Leonel Pavan e sua filha Juliana Pavan, ambos candidatos às prefeituras de Camboriú e Balneário Camboriú, seguem ganhando novos elementos aopos a repercussão que o caso ganhou em todo o Brasil. A novidade são trechos dos áudios que mostram conversas de WhatsApp entre o empresário Glauco Piai, apontado como intermediário do esquema entre os Pavan e empresários interessados em contratos com as duas prefeituras. Confira um trecho dos áudios obtidos pela reportagem:

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Os áudios revelam um suposto esquema de corrupção e caixa 2 no dinheiro doado para as campanhas do pai e da filha. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC) informou que ainda não recebeu representação sobre o assunto. O promotor Alan Boettger, do Ministério Público, também não recebeu a denúncia oficialmente.

O esquema, segundo a denúncia, teria como objetivo arrecadar dinheiro para o caixa 2 das campanhas de Juliana Pavan (PSD) e Leonel Pavan (PSD), candidatos à prefeitura de Balneário Camboriú e Camboriú,  e que lideram pesquisas eleitorais divulgadas nas duas cidades.

Glauco,apontado como o operador do suposto esquema criminoso, foi preso na semana passada com R$ 100 mil, transitando em uma Land Rover na avenida do Estado Dalmo Vieira, no centro de Balneário Camboriú. O celular de Glauco foi apreendido pela GM e está sendo periciado pela Polícia Civil que, até o momento, não confirmou crimes eleitorais. Após a prisão, porém, começaram a vazar conversas privadas que o empresário mantinha com sócios, empresários, políticos e candidatos da região. Os contratos negociados seriam da área de saúde, coleta de lixo, uniformes, obras, compras, TI e parcerias público-privadas em áreas públicas.

Num dos trechos, Pavan pergunta: “Quando vai chover na minha horta”. Em outro, Glauco explica a um empresário que Pavan costuma gastar R$ 1 mil com seus eleitores cada vez que sai de casa.

Comprovantes de PIX a Pavan

“Já consegui, isso aqui entre nós, R$ 500 mil pra ele [Pavan] do ‘Turquinho’, 26 de uma empresa de tecnologia e 26 de outra empresa de tecnologia. O cara da merenda eu fiz uma conversa com ele, tá vindo pra cá também. Tem você e, agora, o cara de seguros”, diz Piai em um dos áudios, enviado em fevereiro ao intermediário de um empresário de São Paulo. Na conversa, ele ainda afirma: “Eu vou ser o secretário de governo [Pavan] para garantir a promessa”.

Arquivos de mídia mostram comprovantes de operações em pix ou depósitos no valor de R$ 1 milhão e 100 mil da Traccia Construtora e Incorporadora, empresa de Glauco com sede na Praia Brava, em Itajaí, a familiares e à conta pessoal de Leonel Pavan.

Em uma das conversas, uma pessoa que seria sócia de Glauco apresenta uma listagem de empresários que fazem as transferências de dinheiro: “Paulinho, gestão de creches; Felipe, obras pequenas; Thiago, parcerias/saúde; Romero, facilities; Fred, cesta básica; Emerson, uniformes; “Amiga”, seguros; Rildo, medicamentos; Miro, merenda do 5º ao 9º ano”.

A divisão das pastas é mencionada em uma conversa na qual Glauco sugere a divisão no período de transição do suposto futuro governo: “Preciso saber o que já foi para Juliana, porque a doutora Grazi está vindo para cá para deixar tudo pronto para a transição de governo,” diz.

Em outras conversas, Glauco envia comprovantes de depósitos para Leonel Pavan, chamando-o de “chefe”. Os depósitos foram feitos tanto na conta pessoal de Pavan quanto na da Leone Construtora, que pertence à família Pavan. Os comprovantes também foram enviados para outros membros da família Pavan, incluindo Edwino Reinaldo Von Borstel Neto, marido de Juliana, e Leonel Pavan Junior, filho caçula de Pavan.

Sobrevoos de helicóptetro

Em agosto de 2024, um depósito de R$ 50.002 foi feito para a Leone Construtora. Em maio de 2024, Glauco transferiu R$ 138 mil em um único dia e complementou com R$ 12 mil no dia seguinte, totalizando R$ 150 mil em cerca de 24 horas.

Também há conversas que mencionam sobrevoos com empresários em áreas em Balneário Camboriú e Camboriú, com o objetivo de conhecer terrrenos disponíveis para futuros empreendimentos. Empresários de São Paulo e Manaus teriam participado desses sobrevoos de helicóptero, no início de 2024 com a companhia de Leonel Pavan.

Outro diálogo menciona um empresário de Manaus que é apresentado ao projeto do parque inundável de Camboriú por Glauco, que estaria envolvido na captação de contratos relacionados à futura obra. “Esta semana a Juliana Pavan pegará um projeto de uma obra… na Companhia de Água da Cidade… preciso que você tenha atestação para a empreitada… te passarei o projeto”, escreveu Glauco. O empresário responde: “Combinado”. Glauco continua: “Vou criar um ambiente in-cloud e compartilharei a senha com você. Tá, o upload de seu time já faz o download”. O empresário responde: “Pode mandar que a gente toca”.

Nas conversas, o empresário manda comprovantes de pagamentos cobrados com insistência por Glauco. “Consegues me mandar o que já me mandaste no total? Hoje à noite vamos ter reunião com Pavan, já tenho que apresentar isso”, avisa Glauco. O empresário responde: “Seis meses já. A primeira foi em 12 de abril”. E logo completou: “Todos os comprovantes, amigo. Manda outro abraço para o chefe”. Esse empresário aparece na negociação como o responsável pelo lote de “obras pequenas”.

Saúde e merenda

Em outro áudio, Glauco e um outro empresário falam sobre  a possibilidade de incluir o serviço de telemedicina no plano de governo. “Eu já tirei da cabeça do Pavan aquela empresa que ele foi visitar, não sei o que ele se meteu a fazer naquela empresa de odontologia que não tem nada a ver com saúde. Nós é que vamos fazer a telemedicina. Pode ficar tranquilo que isso aí é nosso, tá? Pode ficar bem tranquilo”, dizia Glauco na conversa com o empresário.

Também há negociações para a distribuição de merenda nas duas cidades. A negociação foi com um empresário paulista. A promessa seria de que “Miro” assumiria todos os contratos da área de merenda de Balneário Camboriú e Camboriú. O pagamento pelo contrato seria feito em dinheiro vivo, mencionado a entrega de “sanduíches”.

Também há conversas entre Pavan e Glauco Piai discutindo um repasse de dinheiro de R$ 20 mil semanais para o uso pessoal do candidato e R$ 20 mil mensais para a agência de comunicação da campanha de Juliana Pavan. “Quanto vai para a agência? E quanto para a minha conta?”, pergunta Pavan. Glauco responde: R$ 20 mil e o mesmo valor para a agência. “Depois apague isso, por favor”, diz a mensagem. Pavan responde indicando uma chave Pix para as transferências.

Juliana Pavan também trocou mensagens com Glauco, segundo as mídias vazadas. “Boa tarde, prefeita. Sabes de cabeça quantas escolas municipais e quantos alunos temos em BC?”, questionou Glauco. Ela respondeu dois dias depois: “28 NEIs, 14 CEMs, 1 CEJA e 1 CAIC. Dados do Censo de 2022: 14.635 alunos matriculados. Hoje a prefeitura está divulgando que tem mais de 16 mil alunos matriculados”, informou.

Contraponto

Em nota oficial publicada pela assessoria de Juliana Pavan, Leonel Pavan disse expressar “preocupação com a divulgação de denúncias infundadas às vésperas da eleição, evidenciando o desespero da equipe do Partido Liberal”.

“Pavan afirma que os valores recebidos antes do período eleitoral estão relacionados a uma transação imobiliária privada, formalizada de acordo com a lei e com o pagamento dos impostos devidos, conforme contrato assinado em 2024”, diz a nota.

Pavan afirma que o terreno negociado ainda não foi integralmente quitado e que parcelas adicionais estão programadas para pagamento. “Continuaremos firmes na campanha, focando em nossos projetos e permanecendo à disposição para qualquer esclarecimento necessário”, afirmou o candidato.

No esclarecimento, Juliana Pavan também “lamenta as acusações infundadas dirigidas a seu pai e se coloca à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas sobre sua idoneidade e a transparência de sua campanha”.

Na segunda-feira (30), Leonel Pavan gravou um vídeo ao lado da esposa Bernardete para rebater “os ataques sofridos nos últimos dias”. Ele falou de denúncias contra sua família em 2016, na época contra o filho, Leonel Júnior Pavan. Segundo o candidato, agora “a história parece se repetir”, acusando o PL de estar por trás de “armações e montagens de vídeos caluniosos” contra sua família.

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