Região Balneário / Itajaí

Áudios apontam caixa 2 nas campanhas de Pavan e Juliana

Um lobista que seria intermediário das negociações chegou a ser detido no dia 23 de setembro

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Áudios apontam caixa 2 nas campanhas de Pavan e Juliana
Juliana com o ái Leonel: família Pavan no centro das denúncias. Foto: divulgação

Uma reportagem publicada nesta terça-feira (1º) no jornal Folha de São Paulo apresentou denúncias de corrupção que atingem o ex-senador e ex-governador de Santa Catarina Leonel Pavan (PSD), hoje candidato à prefeitura de Camboriú, no litoral Norte do Estado. Segundo a publicação, que vem ganhando repercussão em outras dezenas de sites em todo o País, áudios e trocas de mensagens sugerem que Pavan recebeu dinheiro de “caixa dois” em troca de promessas a empresários em contratos das Prefeituras de Camboriú e Balneário Camboriú.

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Leia também: “Mentira da grossa”: Pavan nega denúncias de caixa 2 contra ele e a filha Juliana

A filha de Pavan, Juliana Pavan (PSD), é candidata a prefeita em Balneário Camboriú, cidade vizinha a onde o pai concorre. As mensagens e comprovantes de transações bancárias, aos quais a reportagem teve acesso, mostram como intermediador desses repasses o lobista Glauco Piai, ex-auxiliar da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy e hoje filiado ao PT de Itajaí.

De acordo com o jornal, Piai chegou a ser detido no último dia 23 em Santa Catarina com R$ 100 mil em dinheiro vivo em dois maços dentro de seu carro. Em um dos áudios, aparece o diálogo:

Já consegui, isso aqui entre nós, 500 mil pra ele [Pavan] do ‘Turquinho’, 26 de uma empresa de tecnologia e 26 de outra empresa de tecnologia. O cara da merenda eu fiz uma conversa com ele, tá vindo pra cá também. Tem você e, agora, o cara de seguros – diz Piai em um dos áudios, enviado em fevereiro ao intermediário de um empresário de São Paulo.

Eu vou ser o secretário de Governo para garantir a promessa  – acrescenta ele.

Quem é o intermediário Piai

Piai foi chefe de gabinete do Serviço Funerário durante a gestão de Marta na Prefeitura de São Paulo (2001-2004).

Mensagens e comprovantes sugerem que os empresários interessados nas promessas de contrato nas prefeituras repassavam os valores para empresa em nome de Piai (Traccia Construtora e Incorporadora Ltda), que, depois, transferia o dinheiro para contas de Pavan, de uma empresa registrada em seu nome e de outras pessoas indicadas pelo ex-senador.

Piai afirnou para um emissário de um empresário que o dinheiro chegava à conta de Pavan na forma de dividendos de uma incorporação imobiliária. O lobista cita uma “cooperativa apócrifa” para a triangulação.

Glauco Piai, ex-assessor de Martha Suplicy, apontado como mintermediador das negociações. Foto: divulgação

Comprovantes e conversas por aplicativo de mensagem entre Pavan e Piai apontam para um acerto de repasse ao ex-senador de R$ 20 mil semanais, bem como R$ 20 mil mensais para uma agência de comunicação da campanha da filha.

Quanto vai pra agência? E quanto na minha conta? -, pergunta Pavan em uma mensagem.

São R$ 20 mil mensais para a agência e R$ 20 mil semanais para você. Depois apague isso por favor –, responde o lobista. Pavan então indica uma chave Pix para as transferências. Piai transfere R$ 20 mil, envia o comprovante e um áudio, onde diz:

Chefe, pode deixar que segunda tem mais. – O ex-senador manda emojis de “joinha” e aplausos como resposta.

Nas prestações de contas apresentadas até agora pelas campanhas de Pavan e de sua filha não há registro de valor vinculado às pessoas objetos dos áudios e mensagens. Nos vários áudios a que a reportagem teve acesso, Piai pede dinheiro sempre com a promessa de divisão de contratos das duas prefeituras, como a administração de creches e merenda, além da realização de obras.

Repasses atingiram R$ 2 milhões

Sergião, vai chover na nossa horta aqui nessa semana? Como é que tá o molho aí? – pergunta Piai em áudio enviado em 13 de agosto ao advogado Sergio de Carvalho Gegers, dono da Actual Tax Brasil Consultoria Tributária Ltda.

De acordo com mensagens de Piai, o repasse total seria de R$ 2 milhões, com promessa de a empresa do advogado assumir obras de grande porte e o setor de tecnologia da informação.

Piai também agendava reuniões entre Pavan e empresários, segundo as conversas. Um desses encontros foi com Valdomiro Francisco Coan, conhecido como Miro, e envolvido em acusações de desvio de recursos da merenda em prefeituras de São Paulo nos últimos anos.

A promessa seria a de Miro assumir a área de merenda em Camboriú e Balneário Camboriú. Uma pessoa identificada como Eli Herbert Frezolone negociava em nome de Miro. Segundo as conversas, o pagamento ocorreria em dinheiro vivo, citado nas mensagens como “sanduíches”.

Outro empresário que manteve contatos e fez repasses a Piai -no valor de R$ 300 mil- foi Felipe Augusto Souza de Albuquerque, da Construtora Soberana Ltda, de Manaus. Segundo as conversas, ele recebeu a promessa de controle de obras pequenas nas duas cidades.

Já a área de telemedicina e parcerias público-privadas ficaria com Thiago Telles Batista, dono da Cortex Capital Ltda, a quem Piai também pediu indicações de interessados em assumir o fornecimento de uniformes e demais materiais escolares.

Na segunda-feira da semana passada, a polícia de Santa Catarina apreendeu o carro, dois aparelhos de celular e o dinheiro encontrado no carro de Piai. Após afirmar que trabalhava para um grupo de São Paulo, o petista disse aos policiais que o dinheiro era destinado ao pagamento de funcionários de sua empresa. Ele foi liberado depois de ser ouvido.

O atual prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício Oliveira, dará uma coletiva de imprensa a partir das 16h desta terça-feira (1º), onde irá se manifestar sobre o caso.

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