Quem circula diariamente pelo Centro de Florianópolis, percebeu nesta semana o entorno da Praça XV, no coração da cidade, um pouco menos colorido. Após cinco anos exibindo a figura gigante do maior poeta catarinense Cruz e Souza, um painel com a imagem do seu rosto foi apagado da lateral de um prédio, ao lado do Museu Histórico Cruz e Souza.
De acordo com informações divulgadas pelo proprietário do edifício, um prédio particular que abriga salas comerciais, a desconstrução do painel foi necessária para que a edificação possa passar por reformas. O prédio vinha apresentando rachaduras e infiltrações, e os técnicos decidiram que não seria possível promover algum conserto sem avariar a obra de arte. A solição foi apagar tudo com tinta branca.
O artista responsável pela pintura, Rodrigo Rizo, se manifestou em suas redes sociais prestando mais esclarecimentos. A obra ganhou o nome de “Cisne Negro”, como era chamado o poeta, filho de escravos alforriados, que teve sua educação bancada pelo patrão da sua mãe, o Marechal Guilherme Xavier de Souza.
StreetArt Tour
Rodrigo acredita que o painel de quase mil metros quadrados trouxe à tona a representatividade do poeta expoente do simbolismo, e reparou parcialmente os efeitos do apagamento histórico intencional ao qual Cruz e Souza foi submetido. Rodrigo se refere ao fato de que o maior poeta catarinense só teve o devido reconhecimento do seu povo muitos anos após sua morte. Foi enterrado no rio de Janeiro, e somente décadas depois seus restos mortais foram finalmente transferidos para Florianópolis.
O painel de Cruz e Souza fez parte de um projeto chamado StreetArt Tour, elaborado pela produtora Studio de Ideias, que captou verbas de incentivos à cultura para erguer pinturas pelo centro da cidade, homenageando ícones da cultura como Antonieta de Barros e Franklin Cvascaes.
Rodrigo revelou sua intenção em repintar o painel de Cruz e Souza, mas esclareceu que isso depende de patrrocínios ou financiamentos. “O mural do poeta maior junto à Praça XV foi um grande marco na minha carreira como artista. Por mais que seja triste ver um trabalho tão importante assim ser apagado, eu já estou acostumado. Já tive centenas de outras obras que eram importantes para mim e que foram apagadas. A efemeridade é parte essencial da arte de rua”, revelou, conformado.