Quem aprecia música brasileira sabe da história da música “Sandra”, composta por Gilberto Gil durante o período em que esteve preso em São José, na Grande Florianópolis. Foi no ano de 1976, quando Gil permaneceu atras das grades por quatro dias. Ele ficou no no Instituto Psiquiátrico do bairro Colônia Santana após ir para a prisão com uma pequena quantidade de maconha no hotel onde estava hospedado, em Florianópolis. Nesta semana, mais de 50 anos após aquele episódio, Gil revelou que escreveu uma segunda canção em uma outra passagem pela capital catarinense.
- Confira o vídeo:
Foi durante sua participação no programa Caldeirão do Mion, transmitido nas tardes de sábado na Rede Globo. Trata-se da música “A Novidade”, gravada pelo grupo Paralamas do Sucesso em 1986, no álbum “Selvagem”, um grande sucesso nas rádios naquela época.
Gil lembrou que estava hospedado num hotel de frente para o mar. Mas não especificou em qual praia de Floripa, quando recebeu um telefonema do músico Herbert Vianna, líder dos Paralamas. O cantor disse que estava concluindo as gravações de “Selvagem”, mas mantinha uma última canção ainda sem letra, e pediu ajuda ao compositor baiano.
Fita cassete pelo correio
Numa época ainda sem internet, Herbert enviou pelo correio para Florianópolis uma fita cassete com uma gravação da melodia. Todos os instrumentos finalizados, mas ainda sem letra e sem vocal. Gil contou que foi pessoalmente ao Centro da cidade buscar a encomendae retornou ao holtel para finalizar o trabalho.
E foi naquele quarto de hotel, com vista para o mar, que Gil escreveu de próprio punho a letra de “A Novidade”, que começa justamente mencionando a orla: “A novidade veio da praia, na qualidade rada de sereia”.
Em 2023, um ano antes de revelar esse episódio em Floripa, Gil usou as redes sociais para divulgar informações até então inéditas sobre a história da música “Sandra”, lançada em 1977 no álbum Refavela. A composição cita mulheres que o baiano conheceu enquanto esteve internado em São José. Eram colegas de cela, no instituto, todas com problemas de saúde mental.
“Maria Aparecida, Maria Sebastiana e Maria de Lourdes me atenderam no hospício durante o internamento imposto pela justiça enquanto eu aguardava o julgamento”, escreveu. Todas foram, segundo ele, “personagens daqueles dias”.
A prisão em 1976
A Polícia Civil prendeu Gilberto Gil em Florianópolis por porte de maconha, em 15 de julho de 1976, às vésperas do show do grupo “Os Doces Bárbaros” na Capital. Na postagem, o cantor relembrou diálogos com as mulheres que o atenderam durante o internamento determinado pela Justiça. “A de Lourdes me falava a toda hora: ‘Você vai fazer uma música pra mim, não vai?’ ‘Vou’”, relembrou.
“E Dulcina, que era a mais calada, a mais recatada de todas na clínica, a mais mansa – era como uma freira -, foi a única que um dia veio e me deu um beijo na boca”, escreveu.
Gil foi a julgamento em 1976, e recebeu uma condenação de um ano de prisão por causa de um cigarro de maconha e outra pequena porção da droga. Na ocasião, os policiais também revistaram Caetano Veloso, não encontraram nada além de algumas pílulas para dormir, com a receita médica. Além dele, o baterista Chiquinho, da banda, também tinha maconha no quarto do hotel.
A legislação não previa a figura do usuário de maconha. Ou a pessoa era traficante ou assumia a condição de viciado. E foi o que Gilberto Gil fez, sob orientação de um advogado: se declarou como dependente e recebeu a condenação de um ano de prisão.
Manezinha também foi homenageada
Na clínica em São José, na Grande Florianópolis, Gil também teve contato com a fã Ana Maria Bessa, que mais tarde foi comparada a “uma cigana da ilha” na letra de Sandra. Quatro dias depois, Gil e Chiquinho foram transferidos para a Clínica Psiquiátrica Botafogo, no Rio de Janeiro.
“Cíntia, porque, embora choque, rosa é cor bonita / E Ana, porque parece uma cigana da ilha / Dulcina, porque / É santa, é uma santa e me beijou na boca”, diz a letra.